
"Meu senso de brasilidade não permitia que ficasse acomodado sem outra coisa a fazer...
Fui voluntário para integrar a Força Expedicionária Brasileira, como capelão militar.
Se não fosse essa qualidade, eu seria voluntário em outra posição qualquer. A situação de nosso país era muito difícil.
A guerra é a coisa mais horrível que há.
Só quem viu de perto pode saber até que ponto é horrível.
Não resta dúvida que há marcas de heroísmo, que empolgam, mas, para as populações civis,
é um verdadeiro inferno."
"Vejo muito de perto o caudal de horrores que a guerra acarreta.
A guerra é um absurdo tão grande que não é possível a civilização subsistir
se a guerra não for definitivamente suprimida.
Ela é a negação da própria civilização.
Uma civilização que admite a guerra como instrumento de reivindicações
não merece o nome de civilização.
Olho tudo isso objetivamente e custa-me a crer o que vejo.
Aqui estão milhares de homens vivendo dentro de buracos que recavam na terra, como se fossem animais,
à espreita do inimigo para tirar-lhe a vida."
"Onde vai a guerra aí ronda a morte, a ruína material e moral apavora, contempla-se o sofrimento da orfandade desamparada,
a vergonha da viuvez sem virtude, a desintegração do lar, a moléstia, a maldade, o desmoronamento de todos os valores.
Que Deus guarde a nossa Terra e o nosso Povo de semelhante maldição."
"... O estado psicológico do indivíduo na guera é tal que quase desaparece a apreciação daquilo que o cerca.
É necessário mesmo um persistente equilíbrio interno para não sofrer as consequências psicológicas da guerra.
Um dos aspectos mais importantes e também difíceis do meu trabalho aqui é justamente esse,
de neutralizar com o poderoso antídoto do Evangelho e da Fé essas anomalias e desajustes que a guerra produz.
... enquanto as demais fases visam a destruição,
a minha visa a edificação moral e espiritual.
Enquanto que os outros serviços colimam a morte,
o meu colima a vida.
Enquanto que os demais serviços visam somente o período da guerra,
o meu tem um objetivo que alcança toda a vida dos homens e se projeta na eternidade."
..
Fontes:
Azevedo, Israel Belo. João Filson Soren, o Combatente de Cristo. Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro 1995.
Soren, João Filson. Cartas à Igreja durante a II Guerra Mundial 1944-1945.
Soren, João Filson. Cartas à esposa durante a II Guerra Mundial 1944-1945.

A igreja reunida em culto no dia 24 de agosto de 1944, despedindo-se de seu amado pastor, então Capelão Soren, que partiria na semana seguinte para a Itália, integrando a Força Expedicionária Brasileira - FEB.

A igreja reunida em culto no dia 24 de agosto de 1944, despedindo-se de seu amado pastor, então Capelão Soren, que partiria na semana seguinte para a Itália, integrando a Força Expedicionária Brasileira - FEB.
A igreja reunida em culto no dia 24 de agosto de 1944,
despedindo-se de seu amado pastor, então Capelão Soren, que partiria em poucas semanas para a Itália, integrando a Força Expedicionária Brasileira - FEB.
Na primeira fila sentados: Diácono Manoel Monteiro, Pastor João Soren, Diácono Antônio de Mattos Viegas, Diácono Manoel Gomes dos Santos, Diácono José Maria Pellozzi, Diácono Luiz de França Costa, Ernesto Soren e Diácono Celso de Oliveira.
O culto teve a participação do Coro dos Soldados, organizado pelo pastor capelão Soren. Este foi o primeiro Coro Militar Evangélico do Brasil.
Tendo sessenta vozes em distintos naipes, cantava sob a regência do sargento Julio Andermann.
![]() Embarque do segundo escalão da FEB na madrugada de 20 de setembro de 1944. Rio de Janeiro. |
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O Segundo Escalão de Embarque realizou-se na madrugada de 20 de setembro de 1944 transportando 5.075 homens para o porto de Nápoles na Itália, em defesa do Brasil.
Após o último culto em terra, o Coro dos Soldados tendo cantado, o navio partia às escuras para assim garantir a própria segurança. A bordo, voluntário em excelsa missão, o Capelão João Filson Soren, integrante do Regimento Sampaio da Força Expedicionária Brasileira. Ele foi o primeiro capelão militar evangélico do Brasil.
Durante o seu ministério como capelão na II Guerra Mundial o pastor João Filson Soren continuou guiando a sua Igreja escrevendo cartas regularmente aos seus "Amados", dando diretrizes aos diáconos e aos pastores Lewis Malen Bratcher e William Carey Taylor. Em outras 44 cartas à sua esposa ele relata sobre suas experiências nos campos de batalha, atestando e agradecendo sempre a proteção de Deus. Expressa também a sua angústia pela separação dos dois filhos, a dolorosa distância de sua esposa Nicéa carinhosamente chamada Nicky e as apreensões em relação ao terceiro filho do casal que estava para nascer. Essas cartas complementam as fontes da documentação aqui registrada.

E
"
screvo-vos nesse Dia do Senhor, quando, mais do que em outros dias acerba-se-me no coração a saudade que tenho de vós. Permite-me também a certeza de que é nesse dia, já santificado pela gloriosa Ressurreição do Senhor, e, que o Povo de Deus santifica na continuidade abençoada dos serviços dominicais da Igreja e do Reino, que vós, Amados, também mais sentís, embora com inteligência dos motivos e das circunstâncias, o pungir desta separação.
Muito tem sofrido os Servos de Deus aqui, tanto durante a vigência do fascismo, como também, e ainda mais, desde que a guerra está assolando a Itália.
... por outro lado, os deveres do meu Ministério aqui exigem por vezes todos os recursos da vontade e da resistência moral e física para que eu os cumpra devidamente. Não é possível a vós, meus Amados, avaliar até que ponto é necessária a fortaleza de espírito para infundir ânimo e alento na alma de um jovem com o corpo literalmente retalhado pela metralhadora e com poucos momentos lhe restando nesta vida.
Até nisso, porém, Deus tem me ajudado com sua forte Mão.
Não são poucos aqueles cujos corações Deus tem me permitido iluminar com a Luz de Jesus Cristo, nos campos de batalha, nas trincheiras e nos hospitais de campanha e de emergência, quando já nos momentos derradeiros desta vida terrena."

"Após o ataque vitorioso ao Monte Castelo, no dia 21 de fevereiro findo, o Capelão Soren, por iniciativa própria, auxiliado por oficias e por abnegados soldados voluntários, percorreu toda a região do Castelo, onde foram feitos os ataques anteriores de 29 de novembro e 12 de dezembro, visando o recolhimento e identificação de cadáveres de nossos bravos soldados que tombaram no cumprimento do dever e que não puderam ser recolhidos em tempo pela hostilidade do inimigo.
Desse nobre altruístico gesto de solidariedade humana do Capelão Soren, resultou o piedoso recolhimento de 46 cadáveres, sendo identificados por ele próprio 22. Os demais corpos foram recolhidos ao Pelotão de Sepultamento, para identificação posterior.
Fazendo público tão nobre procedimento, elogio o Capelão Soren, já tão estimado pelos oficiais e praças do Regimento, pela sua bondade e prestimosidade, e por sua cooperação constante a este Comando mesmo fora a assistência religiosa, sempre que se fez mister, não olhando sacrifícios de qualquer natureza. Em todas as ações que o Regimento tem se empenhado o Capelão Soren não se descuidou da assistência religiosa aos seus camaradas, indo constantemente às companhias empenhado a levar conforto moral e religioso indistintamente a todos os soldados.
Dá agora mais uma prova de suas qualidades morais e alta compreensão de seus deveres e belo exemplo digno de um sacerdote cristāo.
Elogio, pois, o Capelāo Soren, pelo seu louvável procedimento, o que permitiu dar digno e respeitoso destino aos restos mortais dos heróicos soldados do Brasil."
Caiado de Castro
Comandante do Regimento Sampaio, da Força Expedicionária Brasileira (FEB), durante a Segunda Guerra Mundial.
Este elogio foi escrito em 5 de março de 1945.

"Em investigação procedida pelo Inspetor Geral da Divisão foram confirmadas as informações chegadas a este comando sobre o Capelão Evangélico João Filson Soren.
Esse admirável espírito de sacerdote, que, pela incansável dedicação e assistência que vem prestando aos praças, já havia conquistado o respeito, a admiração e a amizade dos oficiais e praças do regimento Sampaio, assim como de outras pessoas não pertencentes àquele Regimento, porém sabedoras do seu proceder, tão logo soube da existência de corpos insepultos de praças nossos que o estado adiantado de decomposição indicava haverem tombado em combates anteriores, foi, tocado em seus elevados sentimentos de humanidade e caridade cristã, procura-los e localiza-los, de moto próprio, tendo, por isto recebido do Comandante do Regimento Sampaio a missão de os recolher também, para o que lhe foi dado o auxílio de alguns praças da Companhia de Comando, que se apresentassem voluntariamente.
Durante três dias e meio, o Capelão Soren, sempre incansável e extraordinariamente dedicado nessa nobilitante missão, vasculhou os terrenos de Viteline e Abetaia (Monte Castelo), ainda semeados de minas e sujeitos ao bombardeio inimigo tendo recolhido os corpos de 33 companheiros tombados bravamente nos ataques de 29 de novembro e 12 de dezembro e talvez em algumas ações de patrulhas.
Trinta e três famílias brasileiras deverão a esse sacerdote, pela nítida compreensão dos seus deveres e exemplar cumprimento dos mesmos, o saberem onde jazem os corpos desses entes queridos.
É, pois, com grande satisfação que elogio o Capelão Soren e lhe dou o meu muito obrigado."
João Batista Mascarenhas de Moraes
Comandante da Força Expedicionária Brasileira (FEB), durante a Segunda Guerra Mundial. O elogio transcrito foi publicado no Boletim da Divisão, em 28 de fevereiro de 1945.
Em 8 de maio de 1945 cessaram-se as hostilidades da II Guerra Mundial no solo Europeu. Os soldados brasileiros puderam iniciar o embarque de retorno, em navios no porto de Nápoles, a partir do dia 6 de julho. O Regimento Sampaio permaneceu acampado em Francolise. Semanas mais tarde, integrando o Segundo Escalão, o Capelão Soren desembarcou em 22 de agosto de 1945 no Rio de Janeiro, regressando finalmente ao solo de sua Pátria amada.