Despedida de um soldado entre campos de batalha
"...Foi a conversão de um soldado, nos últimos momentos de vida, após a Batalha de Montese.
Pertencia esse jovem ao 11 RI-Regimento Tiradentes, regimento que não tinha capelão e
por isso os evangélicos eram atendidos por mim. Quando estavam perto do Regimento Sampaio, assistiam os cultos ali.
Esse moço era mineiro e declarademente ateu, com forte prevenção contra a Igreja, os clérigos, e toda e qualquer forma de religião organizada.
Impressionou-se quando ouviu o nosso Coro, regido pelo irmão sargento Julio Andermann,
cantar, entre outros hinos, "Minha Pátria para Cristo". Deram-lhe um Novo Testamento e Salmos e ele estava lendo o Evangelho de João sob a supervisão do pastor João Lemos, soldado-ajudante da Capelania.
Vítma de explosão de uma mina, pernas estraçalhadas, todo ferido, pedia para confessar-se.
Dirigi-me ao Posto de Triagem, de onde saem os feridos em estado grave para os hospitais.
Junto ao leito, perguntei ao soldado:
- Por que quer confessar-se?
- Sei que vou morrer - respondeu ele - e quero dizer a alguém o quanto eu errei, mas desde
que ouvi os hinos fiquei impressionado com a extensão de meus pecados e senti-me mudar interiormente.
E depois de ouvir as minhas palavras, segurando a minha mão, que foi o seu último gesto,
disse:
- Estou vendo Jesus Cristo.
E partiu para perto dele. "
Cartão postal com pintura anônima documentando uma paisagem em Francolise, na Itália, nos derradeiros meses, antes do término da 2ª. Guerra Mundial, em 1945.
O depoimento aqui transcrito é trecho de uma entrevista realizada por Daria Gláucia e Hildézia Alves Medeiros, em 1965, que foi posteriormente editada na íntegra no livro "João Filson Soren, o Combatente de Cristo" sob a organização de Israel Belo de Azevedo, em 1995.