O Retorno à sua Pátria e à sua Igreja
"Logo no dia seguinte à chegada do Segundo Escalão,
a Primeira Igreja recepcionou seu pastor
em duas memoráveis reuniões.
A primeira delas, especialmente para os membros da igreja, realizou-se às 6 horas da manhã e foi comoventíssima. A segunda foi efetuada às 8 horas da noite e embora o dia, quinta-feira, fosse dia de culto em muitas igrejas,
o belo templo da rua Frei Caneca ficou completamente abarrotado.
Cerca de 3.000 pessoas se comprimiam no santuário,
no vestíbulo e na sala de sessões da igreja ansiosas de ver e de ouvir o pastor que nas frentes de luta deu o mais brilhante testemunho do que vale o Evangelho de Cristo na vida de um homem.
À entrada do Capelão Soren aquela enorme multidão se ergue como se entre todos houvesse passado alguma senha e durante largos instantes o herói que retornava recebeu uma impressionante salva de palmas.
Foi um momento emocionantíssimo e houve lágrimas de gratidão nos olhos e nos corações."
Trecho do artigo de capa de O BATISTA FEDERAL. Mensário Informativo. Órgão da Convenção Batista Federal. Nr. 302. Agosto de 1945.
Capelão João Filson Soren (1908-2002)
Devo falar ainda sob o império da intensíssima emoção sentida naquela noite memorável do dia 23, quando o nosso capelão apareceu de novo neste púlpito donde esteve quase um ano ausente...
"
Eu estava no auditório naquela grande noite e quando ele surgiu ,
um colega me disse: “Temos diante de nós um herói!”
Sim, um herói. E aí está a minha terceira dificuldade: Que palavras irei encontrar com que saúde um herói, palavras que sejam suficientemente sóbrias, seguras e significativas ?
Que palavras poderei encontrar para saudar um herói que nas suas lides mais do que nunca veio a compreender o quanto valem as palavras e como devem elas ser empregadas?
Não soariam as minhas vazias, ocas, absolutamente destituídas de significação aos ouvidos de quem em momentos supremos soube empregar as palavras supremas e decisivas?
Corro, entretanto, confiadamente estes riscos.
Eu estava, como já disse, no meio daquela multidão , que na noite de 23 veio trazer as boas vindas ao capelão que regressava à sua pátria e à sua igreja.
Eu fui um daqueles três mil que, ao aparecer ele na plataforma, nesta plataforma,
se ergueram unânimes como que movidos por mola misteriosa, eletrizados pela comoção e que não tendo outro recurso com que manifestar seus sentimentos romperam numa estupenda salva de palmas.
Ah, aquelas palmas noutras circunstâncias e inspiradas por outros motivos, seriam uma profanação neste templo. Mas naquela noite, permiti-me dizê-lo, elas tinham qualquer coisa de sagrado e de respeitável: foram elas o meio de que se valeu o povo para expressar sua alegria, suas ações de graças, sua admiração pelo herói que voltava coberto de glória e que em onze meses de campanha não deixou um só dia de honrar o Evangelho e o povo que o enviou.
Aquelas palmas eram entusiasmo, eram vibração, mas eram também um hino e uma prece. Um hino de alegria e triunfo, uma prece de gratidão.
Que as perdoe e desculpe o capelão, caso não possa desculpá-las o pastor.
Como saí do meio daquela multidão vibrante e ansiosa parece-me menos difícil minha missão. Penso que me basta abrir o coração e deixar que dele brotem as palavras que todos aqui poderiam dizer: espontâneas, singelas, simples, de um coração para outro coração.”