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O Coro Militar Evangélico do Brasil e o regente Júlio Andermann

 

          Foi organizado pelo Capelão João Soren, o primeiro Coro Militar Evangélico do Brasil.

Formado inicialmente por 40 vozes em diferentes naipes, o coro logo ampliou-se agregando demais soldados do Regimento Sampaio. 

Na ocasião do Culto de Despedida, em 24 de agosto de 1944, na Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro,  o coro atuou com 60 vozes, antes da partida para a Itália. Chegou a ter posteriormente mais de 80 coristas.

Como regente foi designado o sargento Júlio Andermann.

            Cerca de 600 soldados evangélicos integraram a Força Expedicionária Brasileira.

Neste número não se acham computados os simpatizantes, os amigos do Evangelho e os eventuais assistentes aos cultos.

 

Preparou o Capelão Soren o hinário do expedicionário, intitulado “O Cantor Cristão do Soldado”. Este foi impresso pela Casa Publicadora Batista em homenagem à FEB, embora se tivesse prontificado a fazê-lo o Ministério da Guerra. Incluía a coletânea cento e um hinos selecionados dentre os do “Cantor Cristão”, hinário oficial das igrejas batistas brasileiras.

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              Os cultos evangélicos militares foram iniciados no quartel do Regimento Sampaio,

na Vila Militar, tão logo feitas as nomeações dos capelães evangélicos, e, já no mês seguinte (agosto de 1944),  foi organizado pelo Capelão Soren o primeiro Coro Militar Evangélico.”  

 

 

 Braga, Henriqueta Rosa Fernandes. Música Sacra Evangélica no Brasil.

                                                             Rio de Janeiro, Kosmos Editora 1961.

 

O Sargento Júlio Andermann, regente do coro, possuía formação musical da Escola de Música da UFRJ  e foi cantor do Coro do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Durante as décadas de 1940 à 1960 atuou como solista nos cultos e integrou o Coro da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro. Com potente voz de baixo profundo, o regente Andermann orientava os soldados de como utilizar produtivamente a voz cantada e ensaiava-os de forma polifônica. 

A sonoridade do Coro dos Soldados era caracterizada por ser bela, vigorosa e homogênea, principalmente as vozes de baixo, cujo volume impressionava e emocionava durante o cântico em campo aberto.     

Além da colaboração da Casa Publicadora Batista, que possibilitou a impressão em 1944 de um hinário para os soldados expedicionários, o hinário denominado “O Cantor Cristão do Soldado”; é importante ressaltar que a Sociedade Bíblica do Brasil contribuiu doando Bíblias para o ministério de capelania na FEB. Foram quinhentos exemplares, na forma de novos testamentos com salmos, em volume pequeno, de bolso, que teve uma receptividade extraordinária, não somente entre os soldados crentes, mas os que não o eram, incluindo os oficiais superiores.  

Carta de chegada ao Porto de Nápoles

                            em outubro de 1944.

 

       “... o Vesúvio está em “sossego posto”. Ontem, houve ligeira ejecção de vapores.

        Realizamos o Culto da Alvorada hoje pela manhã a bordo no momento em que o sol iluminou a cratera.  Foi um quadro deslumbrante.

O vulcão dava a impressão de um grandioso altar que se elevava do mar para realizar um sacrifício ao céu numa grandiosa proclamação da glória de Deus e da obra de suas mãos.

 

A região industrial da cidade que ocupa a área da antiga Pompéia ao pé da montanha estava reverentemente coberta por um véu de densa bruma de outono do Mediterrâneo...

 

Os soldados pareciam estar todos sob a influência e inspiração do cenário.

 

        Talvez tenha sido esta a primeira vez que ressoaram na formosa baia de Nápoles as melodias dos hinos que cantam os crentes.”

 

a atuação do coro 

 

        “Quando as unidades se achavam aquarteladas, acantonadas, acampadas, bivacadas ou embarcadas, havia cultos gerais diários. No transcorrer das operações de guerra, porém sua celebração dependia das circunstâncias, realizando-se, quase sempre, em pequenos grupos reunidos no Posto de Comando dos pelotões e das companhias.

 

 

...dentre os hinos de O Cantor Cristão do Soldado, verificou-se uma maior predileção, por parte dos expedicionários evangélicos, por "Firme nas Promessas", "Um Pendão Real" e "Minha Pátria para Cristo.”

 

                                     Trechos da carta de 23 de Outubro 1944

 

       “...Temos cultos diariamente no acampamento às 18 horas.

As vezes já está escuro, então os soldados trazem velas...

 

O nosso trabalho cada vez ganha mais prestígio e influência.

O Hinário tem sido uma verdadeira benção. O Júlio Andermann, regente do coro, tem sido de uma dedicação muito louvável.”

 

La CHIESA metodista di piacenza 

 

        “Enquanto o Regimento Sampaio esteve em serviço de ocupação em Piacenza, o seu Coro de Soldados alí cantou várias vezes nos cultos militares que se realizavam no templo da Igreja Metodista (Wesleiana) local e também nos cultos regulares da referida Igreja.”

 

 

No domingo 20 de maio de 1945, pela primeira vez, depois de meses vivenciando os horrores da guerra, os soldados evangélicos e novos convertidos puderam finalmente realizar um culto vespertino dentro de um templo. Acolhendo a proposta do Capelão Soren, a Chiesa Evangelica Metodista di Piacenza, que era pastoreada pelo Reverendo Bufano, cedeu o seu templo. O Reverendo viajava todos os domingos cerca de 130 kilometros, pois pastoreava também a congregação de Cremona, para alí dirigir os cultos vespertinos. Abria-se então um espaço em Piacenza que possibilitava a realização dos cultos dos soldados brasileiros.   

Os cultos com a participação do Coro dos Soldados concorreram para um grande avivamento na Igreja Metodista de Piacenza, que tornou-se assiduamente mais frequentada. Assim expressou-se, na época, o Reverendo Bufano.

 

 

Retribuindo a gentileza e hospitalidade dos membros e respectivo pastor, o Capelão Soren iniciou uma campanha para o reparo das avarias que o templo tinha sofrido com os bombardeios aéreos. O templo não tinha sido atingido diretamente, porém todos os vidros estavam estraçalhados e outros danos como o desabamento de estuques e rebocos traziam ainda perigo. Ofertas foram levantadas entre os soldados brasileiros e entregues aos irmãos da Igreja de Piacenza.

As obras de restauração do templo foram iniciadas.

 

        O culto de despedida com a atuação do Coro Militar Evangélico na Igreja Metodista de Piacenza foi realizado no domingo 10 de junho de 1945. Após o culto houve uma inesquecível confraternização, uma recepção oferecida pelos soldados evangélicos do Regimento Sampaio à Mocidade Evangélica Piacentina.

 

 O Regimento Sampaio prosseguiu, então, para Francolise, para alí acampar, antes de voltar ao Brasil.

As últimas atuações do coro e a ausência de dois soldados

        “Mais tarde o Coro atuou quando o Regimento, acantonado na área de estacionamento em Francolise, próximo a Nápoles, aguardava o retorno à Pátria.  Nesse local realizou-se a solenidade de encerramento formal do serviço religioso da FEB em solo italiano, no domingo 5 de agosto de 1945.”

                 Dois de seus componentes, que deram a vida pela Pátria, foram lembrados e homenageados:

O sargento Ananias Holanda de Oliveira, morto em 20 de fevereiro de 1945, e o soldado Lélio Martins de Souza, falecido em 12 de dezembro de 1944. Homens esses, que certamente encontraram descanso junto ao Pai Eterno. 

 

        “Na oportunidade, o Coro Militar Evangélico do Regimento Sampaio entoou pela primeira vez o Hino da Vitória, preparado pelo seu capelão, Pastor João Soren.

Este mesmo hino foi cantado congrecionalmente dez anos mais tarde, em 8 de maio de 1955, no templo da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, no culto de Ação de Graças pelo transcurso do décimo aniversário do término da guerra, promovido pela Associação dos Ex-Combatentes do Brasil.”

 

 

 

Fontes:

Braga, Henriqueta Rosa Fernandes. Música Sacra Evangélica no Brasil. Rio de Janeiro, Kosmos Editora 1961.

Capelanias. Relatórios da Confederação Evangélica do Brasil. 10. Biênio 1952-1954, p. 34 e 35. Rio de Janeiro, 1955.​

Hillman, Jimmye. A President in Perspective. Revista Window, USA, julho 1962.

Medeiros , Hildézia Alves & Gláucia, Daria.  Soren: de Monte Castelo ao Maracanã.  Entrevista na revista Juventude Batista, 1965.

Nassau, Rolando de. João Soren, pastor e musicista. Artigo Nr. 295.  O Jornal Batista, 1985.

O Cantor Cristão do Soldado. Homenagem da Casa Publicadora Batista à Força Expedicionária Brasileira. Rio de Janeiro 1944.

Ordens de Culto da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro. 1955, 1960, 1966, 1979 e 1995.   

Soren, João Filson. Cartas à esposa durante a II Guerra Mundial 1944-1945.

UNUM CORPUS. Artigo:  O que faz um Capelão no Exército. Janeiro de 1954. 

Capelão Soren 

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